Estacionamento

Acabávamos de sair do motel vagabundo onde sempre nos encontrávamos. Eu não estava mais agüentando viver daquele jeito. Juliet estava sendo mais manipuladora do que o previsto. Céus, eu era um cretino por ter caído naquela conversa idiota dela de quando minha prima tinha quinze anos. Não podia acreditar que um cara de vinte e quatro anos podia ter sido enganado por uma menina mimada de quinze. Era um belo idiota, isso sim.

Eu não fugia de Juliet, apenas me afastava momentaneamente para poder me odiar em paz. Quero dizer, aquela situação estava me comendo de dentro para fora. Não aguentaria ficar mais sequer um segundo com a loira nos meus braços sem me martirizar um pouco antes. Meu pai ficaria desonrado caso soubesse desses meus casos com minha “prima” de 17 anos de idade, uma criança praticamente.

Bufei, estacionando o carro perto dos portões de Shoreline e saindo do mesmo. Juliet abriu a porta do banco do carona assim que percebeu que eu não seria cavalheiro. Mais um de meus truques infames para fazer com que ela saísse do meu pé para que eu pudesse galinhar em paz durante uma sexta feira à noite.

É claro que ele não funciona, já que Juliet ainda não desistiu de ficar me enchendo o saco.

– Até quando vai continuar com isso? – disse enquanto acelerava o passo para me alcançar. Reprimi um riso. – Dá para parar de me ignorar pelo menos uma vez?

Parei de andar e me virei para ela. Estava muito disposto a mandá-la à merda, mas me segurei, não querendo causar uma “cena” bem nas portas de Shoreline. Aquilo tudo poderia chegar nos ouvidos de Tia Meg, e aquilo definitivamente não prestaria, até mesmo porque eu seria o culpado de deflorar a doce e pura Juliet Beth Morgan e não ela ser a culpada de me extorquir o quanto quisesse para me ter com ela todas as sextas feiras da semana, quando eu poderia estar bebendo com meus amigos em um bar qualquer.

Carma é uma vadia, e Juliet era o capeta em pessoa.

Já ia voltar a andar na direção oposta a sua quando ela se jogou na minha frente e me deu um beijo enlouquecedor, daqueles que só ela conseguia dar. A animal conseguia ser uma amante extremamente... ativa, mas o que a estragava era simplesmente o fato de que não tinha tempo para ser. Juliet fazia o que queria na hora que queria, e eu estava ficando de saco cheio disso tudo.

Desfiz-me do beijo, empurrando-a para longe e a olhei com certa raiva. Ela sabia que não podíamos ser vistos juntos e mesmo assim continuava com esses joguinhos sem nexo dela. Deus, o que eu fiz para merecer essa garota na minha vida?

– Quando que vai parar com isso, Luke? Você sempre me procura e depois me trata como um lixo. – deu um sorriso pervertido quando falou que eu a procurava e depois voltou a ficar séria – Querendo ou não, você precisa de mim, não é mesmo?

Levantei uma de minhas sombrancelhas quando ela terminou de falar e logo depois soltei um sonoro.

- Vá à merda, Morgan.

Após isso voltei a caminhar para dentro de Shoreline. O combinado era nos encontrarmos com Marie. E é claro que Juliet estava no meu encalço, como sempre.

– Se você acha que assim vai conseguir o que deseja, acredite, você está muito enganado. – Acelerou o passo e se pôs na minha frente novamente. Aquilo estava começando a me irritar– Será que dá para você conversar comigo normalmente pelo menos uma vez? – Ponderei por instantes, apenas para dar um sorriso de canto quando ela segurou meus braços – como se aquilo fosse fazer alguma diferença caso eu quisesse sair dali. - Me dê apenas um motivo para você agir assim. E não vem falar que é por que somos primos, você sabe tanto quanto eu que não somos.

Levantei uma das minhas sombrancelhas assim que ela falou sobre sermos primos. Realmente não éramos, mas tínhamos sido criados juntos por todo aquele tempo. Eu devia vê-la como uma prima, assim como eu via Marie. Eu só não entendia porque eu não conseguia fazê-lo. Quero dizer, com Marie tudo era mais fácil: ela era delicada, frágil e precisava de alguém que a defendesse – alguém como eu – e Juliet sempre foi a mais... forte. A mais pivete, a mais endiabrada.

E consequentemente, a que mais se pendurava em mim.

E isso não seria problema, caso Tia Meg não tivesse deixado as duas por minha conta. Juliet se atracando a mim todas as semanas deveria me incomodar, afinal, ela era nove anos mais nova que eu. Estranhamente, eu não sentia nada. Absolutamente nada.

E era exatamente por isso que eu não podia deixar ela alimentar sentimentos como os que ela tinha sobre mim. Mais cedo ou mais tarde eu a magoaria mais do que deveria. E quando isso acontecesse, meu amigo, a vida na Terra como conhecemos estará acabada. Ela vai fazer da vida de todos um inferno. Mais do que já está.

Suspirei uma, duas vezes, pressionando a parte superior de meu nariz para espantar aqueles pensamentos. Droga, porque eu não podia ter uma vida normal de Agente do FBI para inicio de conversa?

- Você quer um motivo? Pois bem, eu tenho um motivo. – falei, olhando-a com certa ignorância. – Você é uma criança mimada e eu cansei de ser seu brinquedinho. – dei um sorriso de canto e puxei meus braços, voltando a andar nem um pouco abalado pelo olhar nada carinhoso que ela provavelmente estava me dando naquele exato momento.

Continuei a caminhar até uma forte dor de cabeça me atingir e eu dar um grunhido contido. Fui de encontro ao chão em questão de segundos, praticamente esmagando meu crânio entre minhas mãos na vã tentativa de conseguir acabar com aquela dor infernal. O que diabos estava acontecendo? Há apenas um instante eu estava bem. Meus joelhos mantinham-se plantados no chão e estava completamente contorcido.Escutei Juliet falar no meu ouvido em meio àquela dor imensa e só pude arfar quando a mesma intensificou-se quase que mortalmente.

– Está sentindo dorzinha, Luke? – perguntou para mim, em tom de gargalhada e eu pude sentir minhas veias da testa pulsarem. Céus, estava muito doloroso continuar sem gritar. A qualquer momento eu faria o escândalo que eu estava sentindo tornar-se público.

Então cedi e dei um belo grito. Não sabia se tinha sido alto ou baixo, mas assim que o fiz, a dor passou e eu pude pensar claramente de novo. Levantei-me do chão, tomando o cuidado de dar alguns tapas nos joelhos para tirar a sujeira devido ao seu contato com o chão e, ainda com uma das minhas mãos na cabeça, tentando descobrir o que diabos tinha acontecido, virei-me para Juliet, que me olhava com um sorriso de canto no rosto. Aparentemente ela continuou a sorrir para mim e deu de ombros, saindo praticamente saltitando na minha frente. Não pude fazer nada a não ser seguí-la. Mais tarde obteria respostas. Fossem elas dos médicos do FBI, ou até mesmo da loira que agora andava despreocupada pelo portão de Shoreline.

JUST LIKE THE WORLD IS OURS

We are who we are!

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ENCERRADO.