Juliet Beth Morgan e Marie Cornelia Morgan

Algum tempo depois de John sair da sala me deixando completamente nua estirada pelo chão, levantei-me com dificuldade, uma vez que praticamente todos os meus músculos estavam doloridos devido à brutalidade a qual meu professor me tratou poucos minutos atrás. Arfei ao olhar para minhas pernas, ensangüentadas na parte interna de minhas coxas. Reprimi um grito de agonia, preferindo que as lágrimas lavassem meu rosto em silêncio a qualquer pessoa vir em meu socorro e ver meu estado. Não conseguiria encarar ninguém naquele momento. Precisava sair dali antes que John voltasse. Para meu próprio bem.

Passei meus olhos, ainda com lágrimas prontas para descer, por todo o ambiente e logo encontrei minha saia de pregas azul-marinho em um ponto não muito distante. Estava em perfeito estado, pela minha breve avaliação. Fui de encontro a ela lentamente. Não queria fazer barulho algum que fizesse com que eu fosse encontrada. Abaixei-me para pegá-la e reprimi um grito de dor assim que vi minha calçinha ao lado da minha saia. Estava rasgada, uma vez que John tirou-a com uma força sobre humana. Por fim peguei ambas e vesti-as tão rápido quanto minhas manchas roxas deixavam. Em uma breve olhada novamente pela sala, encontrei minha blusa social branca em cima da mesa de John. Enojei-me de tudo aquilo. John me pôs primeiro sobre aquela mesma mesa para tirar todas as minhas roupas. Enxuguei as lágrimas que vieram novamente para meu rosto com as costas da minha mão direita, arriscava que era a única parte de meu corpo que não doía naquele momento. Passei a blusa pelos meus braços, abotoando tão rápido quanto podia e saí daquela sala quase correndo. Não voltaria para lá tão cedo. O som do salto alto boneca que eu usava podia ser escutado por todo o corredor deserto de Shoreline, uma vez que era Sábado e não haviam aulas naquela parte do prédio. Esperava que ao menos até eu chegar em meu quarto e me trancar no banheiro eu não fosse encontrada por ninguém.

Felizmente, ninguém teve a sorte, ou azar de me encontrar e eu cheguei sã e salva ao meu quarto, compartilhado com Juliet. Logo tranquei a porta com as mãos trêmulas e encostei minhas costas na superfície dura e fria da porta. Talvez aquilo me desse algum tipo de força para que eu continuasse a andar até o Box do banheiro e me esfregasse como se não houvesse amanhã, tentando tirar todos os resquícios de John que ainda se faziam presentes em mim, como por exemplo os chupões que ele deu em meu pescoço sensível. Algum tempo depois peguei o iPod de Juliet e coloquei uma das músicas que ela mais gostava e que eu não suportava. Talvez isso conseguisse me distrair para que eu não pensasse no que aconteceu há poucos minutos e conseguisse tomar um banho calmo. Procurei por My Last Resort, do Papa Roach e pus o som no máximo, logo após isso me dirigindo lentamente para o banheiro, onde tirei todas as minhas roupas, incluindo minha calçinha e sutiã, ambos em estado deplorável, e dando uma boa olhada no espelho do banheiro do quarto.

Eu estava horrível, manchas roxas cobriam toda a região do meu colo e braços, e chupões nada delicados ameaçavam tornarem-se roxos a qualquer instante. Meu cabelo, antes sedoso e bem arrumado, agora jazia em sua maioria um ninho de ratos incontrolável. Em suma, eu estava pálida, com manchas roxas, sangrando em algumas regiões do corpo, principalmente entre as pernas, e com grandes chupões causados pela boca de John. Tranquei o banheiro, esperando que aquelas portas fossem suficientes para que ele não me encontrasse e fizesse aquilo tudo de novo. Eu não aguentaria tal prova de fogo novamente. Preferia morrer a ter novamente seu corpo sobre o meu falando obscenidades sobre como virgens eram superestimadas.

Lágrimas grossas desceram pelos meus olhos e eu achei melhor entrar logo no banho, antes que me agachasse e começasse a chorar a esmo. O fiz, dando um soluço profundo e abri todo o registro do chuveiro, fazendo com que dele jorrasse uma água de congelar os ossos. Agradeci por aquilo, talvez melhorasse um pouco a aparência dos machucados. Eu torcia por aquilo mais do que podia. Entrei de imediato debaixo do jato, molhando meus cabelos junto a todo o resto do meu corpo e olhei para baixo, vendo o sangue das minhas pernas misturar-se com a água abundante. Solucei novamente, tentando não chorar. Eu não era mais virgem. Tudo graças a ele.

Então, por cima de todo o barulho que o chuveiro e a música causavam naquele quarto, escutei a voz de Juliet, seguida de repetidas batidas na porta do banheiro. Ela parecia estar preocupada, como nunca a vi antes comigo. Sua voz começou a falar, fraca, mas logo tomou entonação para que eu a escutasse claramente apesar do barulho externo.

- Marie, ér, você ta bem, maninha?

Mas é claro, que se eu a respondesse, talvez ela percebesse a minha fragilidade naquele momento, então fiquei quieta, sentando-me no chão do Box e ficando ali até que não pudesse mais.

Juliet entrou no banheiro, avistando todas as marcas que John deixara em mim. Droga! Eu tinha esquecido que ela tinha a cópia da chave! Eu queria gritar, queria fugir antes que tivesse de explicar tudo para ela. Céus, eu preferia morrer a verbalizar o que tinha acontecido comigo uma hora atrás. Tinha medo da reação de Juliet ao me ver daquele estado, então ela me perguntou o que diabos tinha acontecido e minha mente praticamente explodiu, tentando achar uma desculpa convincente para que ela não ficasse desconfiada. Por sorte, eu havia lido algumas vezes romances sobre esse tipo de coisa então apenas trinquei meus dentes e falei, um pouco ríspida.

- Não é da sua conta, Juliet. – praticamente vomitei as palavras a medida que me levantava, esperando que ela não percebesse as manchas roxas que se espalhavam pelo meu corpo, assim como minha voz embargada e meus olhos inchados. Virei-me de costas para ela, já que estava sentindo um pouco de vergonha da minha irmã me ver completamente pelada. Não éramos mais crianças e eu me sentia incomodada de me verem sem meu corpo coberto por saias e calças quentinhas.

Nunca pensei que perderia a minha virgindade daquele jeito tão brutal e sujo. Esperava que a perdesse com o homem que eu amava, que me fazia sentir segura e que seria meu marido em poucos anos. Os livros e romances que eu lera por toda a minha vida também não haviam ajudado a diminuir aquela expectativa quase esmagadora do meu ser. Eu estava me sentindo suja, usada. Como nunca antes na minha vida. E o pior era que eu sabia que jamais teria minha virgindade de volta.

Nunca mais.

Fechei meus olhos com força, reprimindo as lágrimas que queriam sair de meus olhos castanho-escuros. Não poderia chorar, não poderia desabar nos braços de Juliet e cuspir todos os sentimentos que passavam por meu ser naquele momento. Nunca poderia. Aquele fardo eu carregaria sozinha, não deixaria ninguém saber daquela desgraça que eu me transformara. Juliet não saberia que eu fui estuprada. Jamais.

Fechei o registro do chuveiro, pegando uma toalha felpuda branca e me enrolando nela, para passar por minha irmã que me olhava confusa e ir para o quarto, onde encontrei Luke sentado na cama de Juliet um pouco desconcertado por me ver daquela forma. Assim que ele me viu, se levantou e saiu do quarto, querendo me dar privacidade suficiente para que eu pudesse me trocar em paz. Agradeci mentalmente por aquele senso que Luke tinha para comigo. Suspirando, abri meu armário e peguei uma muda de roupas limpas, cheirando a lavanda. Exalei daquele cheiro com um pouco de tristeza. Nada mais seria como antes.

Vesti uma calça de moletom bem folgada e uma blusa de mangas compridas e gola alta. Não queria mostrar sequer uma parte de meu corpo para ninguém. Comecei a pentear meus cabelos, absorta em alguns pensamentos um pouco mais maldosos do que eu achava ser saudável, então Juliet veio ao meu encontro, ficando na minha frente e pondo uma de suas mãos na cintura. Ótimo, ela queria explicações.

Encarei ela por segundos infindáveis, sem expressão alguma. Eu estava vazia. Não conseguia demonstrar mais nenhum tipo de emoção que fosse.

Havíamos caminhado até o quarto onde Juliet e Marie dormiam em Shoreline. O plano normal que tínhamos era sairmos juntos para uma noitada dos primos. Marie não beberia, como sempre, apesar de já ser maior de idade, e Juliet faria o possível para encostar seus lábios cor de carmim em uma caneca de chopp bem gelado. De preferência, o meu, apenas para me encher a paciência. E provavelmente ficaria tão bêbada que eu seria o azarado a ter que carregá-la no colo enquanto Marie nos guiava para o quarto das duas.

Tia Meg não sabia o quão imbecil e egoísta sua afilhada era.

Então chegamos no quarto das duas, onde entramos sem delongas. Juliet escutou My Lat Resort, do Papa Roach tocar alto no quarto e ficou preocupada, logo indo para o banheiro e me mandando continuar onde eu estava. Por fim me sentei na cama de Marie, que eu devia falar que era bastante macia e confortável. Marie apareceu poucos segundos depois, apenas de toalha e pingando água por todo o chão encerado. Tentei ignorar as manchas roxas que cresciam por seu corpo e assim que ela praticamente implorou para que eu saísse do quarto, o fiz, fechando a porta atrás de mim e encostando na parede ao lado da mesma e dando um suspiro alto.

O que diabos estava acontecendo com minha prima?

Perdido em pensamentos, não percebi que Alexia, a melhor amiga de Marie, chegou ao meu lado, já desfibrilando o máximo de veneno que conseguia. Bufei assim que ela terminou de falar. A verdade era que eu não sabia de nada, mas não daria o braço a torcer para aquela garota gótica que amava me encher o saco.

- Cale a boca, Alexia. Você fala demais. – levantei uma de minhas sombrancelhas e assim que vi que ela iria me responder, apenas falei. – Eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo com a Marie... E aconselho você a não entrar aí, ela e Juliet estão conversando. – falei, ao ver que ela ameaçava querer entrar no quarto.

– Não vai mesmo me contar não é? – fez uma pequena pausa e continuou a falar – Se é assim que você quer, acho que vou ter que apelar... – Juliet abriu um sorriso que beirava a maldade e eu estremeci. Sabia exatamente do que ela estava falando. Provavelmente ela me faria sentir uma dor excruciante na cabeça. Já ouvira falar dos poderes de minha irmã e não estava nada feliz em experimentá-los, dessa vez, sendo a cobaia. – Você sabe que eu tenho coragem de fazer isso Marie. E aí, vai contar ou não? – Assim que ela terminou de falar, neguei com a cabeça. Não seria doida a ponto de contar uma coisa dessas para minha irmã. Era errado. Eu não queria traumatiza-la. Seria um choque saber que a irmã mais velha fora estuprada e tinha perdido a virgindade com o professor de Física Aplicada.

Continuei a tentar enxugar meus cabelos mais do que molhados. Céus, eu não aguentaria a dor a qual estaria sendo pressionada em questão de segundos, mas me recusava a contar a minha vergonha para minha irmã. Era doloroso demais...

- Não há nada para se contar Juliet, agora por favor, pare com essa sua pose de mandona, não funciona pra você. – falei, jogando um tipo de veneno que eu não sabia onde havia encontrado e voltei a pentear meus cabelos, tentando manter o máximo de calma que eu conseguia.

Tive vontade de rir quando Juliet desistiu de me fazer falar. Eu não tinha absoluta certeza de que ela não me machucaria para obter o que queria. Um risco a se correr, suponho eu.Contudo, ela não o fez e eu agradeci mentalmente por aquilo, fechando meus olhos e pela milésima vez naquele dia visualizando John Sieghart em cima de mim, falando tantas besteiras quanto ele podia, mexendo-se constantemente dentro de meu corpo, já não tão puro assim. Da dor que eu havia sentido quando ele continuou com seus chupões, arranhões e machucados – que eu fazia questão de esconder – tanto exteriores quanto interiores que ele me causara.

Eu não deveria ser tão masoquista e continuar a sofrer calada como estava, mas... falar tudo o que me acontecera para a Polícia e denunciá-lo não me parecia uma punição apropriada para o que ele me fez. Não me parecia uma ideia muito brilhante...

Juliet me tacou um de seus travesseiros, tentando se vingar de mim e eu subitamente tive um estalo em minha consciência.

Vingança! É claro. Eu me vingaria de John. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse em toda a minha vida. A Marie inocente, medrosa e bondosa morrera no chão daquela sala de física aplicada. E como minha irmã adorava falar que uma mulher só muda quando seu cabelo muda, peguei um cacho de meus cabelos castanho escuros e analisei-os por instantes, apenas para chamar Juliet e perguntá-la.

- Juls, você pode pintar meu cabelo? – pedi, tentando deixar minha voz num tom normal. Se ela recusasse eu sempre poderia ir em um Salão de Beleza, mas queria sair daquele quarto diferente de como eu havia entrado.

É isso. A Marie idiota acabara de morrer. John pagaria por tudo que havia me feito.

Alexia me irritava. Especialmente porque ela fazia questão de me olhar atravessado toda vez que nos encontrávamos. Quero dizer, a garota adorava fingir que me detestava apenas para poder me dar um soco na boca do estômago e sentir meu cheio natural. Se eu sou convencido? Imagine, apenas consciente da verdade.

- Cale a boca você, Luke. Não vai querer se meter comigo. Eu sei mais do que você nessa história. E eu sou a melhor amiga dela. Tenho todo o direito de falar com Marie quando algo está errado. – percebi que suas mãos já estavam em punhos cerrados, prontas para tentar me bater e sorri para ela. Sequer tinha medo das suas reações. Era apenas uma menina mimada que não gostava de escutar a palavra “não”. Ótimo, éramos dois cabeças-duras. Alexia bateu na porta, tentando me ignorar e entrou no quarto. Revirei os olhos. Porque aquela garota não podia me escutar pelo menos uma vez na vida dela? Pouparia muito a minha paciência e a auto estima dela. Contudo, não reclamei, uma vez que também queria saber o que diabos estava acontecendo com minha prima. Marie parecia abatida quando eu a vi pela primeira vez. Alexia entrou no quarto, e eu fiquei parado no batente da porta, olhando tudo do corredor enquanto Alexia perguntava a Marie o que havia acontecido. - Hey, será que dá pra uma de vocês me contar o que aconteceu? Eu posso saber, não posso? E droga, Marie, porque parece que você vai matar alguém?

Quis rir com aquele comentário infantil, mas a verdade era que sim, Marie parecia bem diferente de quando eu saíra do quarto. Mantinha uma expressão neutra e continuava a pentear seus cabelos cheirosos. Juliet voltou seu olhar para mim e eu dei de ombros, tentando explicar para ela que aquilo não era culpa minha.

- Eu acho melhor eu ir... – falei, coçando a minha nuca e apontando para o corredor. – Marie, melhoras priminha. – afirmei, indo até ela e dando um leve beijo em sua testa.

- Não precisa ir se não quiser, Luke. – Marie falou, pidona e eu dei de ombros. – Juliet só vai pintar meu cabelo e aí nós podemos ir pro Pub. Tudo por minha conta. – sorriu, e seus olhos brilhavam, então me sentei um uma das camas do quarto e suspirei, vencido. Marie sempre conseguia me convencer.

- Ok, você venceu, mas só se a gótica ali for também. – sorri, apontando para Alexia, que me fuzilou com o olhar. Eu não perderia a chance de ver a morena se equilibrando em um salto de alto nunca. Me acabaria de tanto rir.

– Vou pegar minha garrafinha de água oxigenada no banheiro – Juliet falou, levantando-se da cama com um belo sorriso em seu rosto. Quis sorrir também. Uma vez que ver todos os dentes de minha irmã era algo bastante raro de se acontecer, ela praticamente vivia de cara emburrada. Ficava feliz apenas por fazê-la feliz com algo tão simples como aquilo. Pelo menos de uma coisa aquilo tudo havia servido.

Eu nunca havia pintado meu cabelo, achava aquilo ruim, uma vez que eu já vira tia Meg várias vezes passando mal por causa da quantidade excessiva de água oxigenada que os cabeleireiros passavam em sua cabeça. Tinha medo de que aquilo acontecesse comigo novamente, mas eu decidira que iria mudar e eu iria. Passar mal por causa daquilo seria apenas um efeito colateral bobo. Juliet estava indo para o banheiro quando Alexia entrou no quarto, perguntando-me algumas coisas.

- Hey, será que dá pra uma de vocês me contar o que aconteceu? Eu posso saber, não posso? E droga, Marie, porque parece que você vai matar alguém? – voltei meu olhar para Juliet, pedindo silenciosamente para que ela não falasse nada e assim que terminei, olhei para Alexia, parada na minha frente.

Luke permanecia atrás de Alexia, um pouco sem jeito. Ah claro... Eu me lembrava da velha rixa dos dois. Alexia detestava Luke e ele detestava minha amiga. Ambos no fundo se gostavam, pelo que eu percebia, mas nenhum dos dois dava o braço a torcer. Eram orgulhosos demais, pelo jeito. Dei uma risada abafada e Luke coçou sua nuca, logo falando:

- Eu acho melhor eu ir... – ele falou – Marie, melhoras priminha. – então foi na minha direção e deu-me um beijo estalado na testa. Fiquei sem reação. Luke era um dos caras mais gentis e fofos que eu havia conhecido. Claro que ele fazia questão de esconder aquela aura bonita que tinha mas eu sabia que... por mais que tentasse, ele nunca conseguiria. Ficava alegre só de saber que ao menos uma pessoa, além de Juliet, se importava comigo. Não era meu pai... Mas era muito mais.

- Não precisa ir se não quiser, Luke. – falei, pidona, pedindo por tudo que é mais sagrado para que ele ficasse e fosse conosco para algum lugar nos divertirmos. Eu queria esquecer John, apenas por um instante. Estava ficando obcecada já e isso não era nada legal. Quero dizer, eu precisava treinar meus flertes se quisesse seduzi-lo. – Juliet só vai pintar meu cabelo e aí nós podemos ir pro Pub. Tudo por minha conta. – sorri, mordendo meu lábio inferior e dando um pulo na minha mente quando o vi suspirar e assentir. Eu sempre conseguia convencê-lo. Podia ver em seus olhos que ele também estava pensando isso. E é claro, confirmei aquilo logo depois quando li seus pensamentos. Contudo, não deixaria Juliet ingerir nenhum tipo de bebida alcoólica. Sequer eu podia, mas daria um jeito de conseguí-las para mim.

- Ok, você venceu, mas só se a gótica ali for também. – sorriu, apontando para Alexia, que lhe fuzilou com o olhar. Aqueles dois em deram vontade de rir. Eu tinha de conversar com minha amiga antes de irmos. Queria ter certeza de que os dois ficariam juntos naquela noite.

Os dois me divertiam bastante e eu consegui me esquecer de tudo o que havia acontecido comigo há pouco. Contudo, foi apenas por poucos segundos, visto que Juliet chegou com o pote de água oxigenada e tirou-os do quarto. Assim que voltou seu olhar para mim, trouxe uma cadeira da minha escrivaninha e acenou para que eu sentasse na mesma. O fiz, olhando para Juliet confiante.

– Pronta? – perguntou-me e começou a passar o líquido gelado pelo meu couro cabeludo. Tremi, mas não falei nada.

Algum tempo depois, Juliet terminou de escovar meu cabelo e se afastou de mim, indo até a gaveta da minha escrivaninha e pegando um pequeno espelho que eu havia deixado ali havia algum tempo. Queria xingá-la por fazer tanto mistério. Apenas queria ver como estava. Minha careta de tédio foi dissolvida assim que ela abraçou o espelho entre si e de uma hora para a outra, virou-o para mim, deixando-me ver os antes belos cachos castanhos transformarem-se em um louro brilhante.

Meu cabelo agora estava mais lindo do que nunca. Juliet havia os cortado na altura dos meus ombros e alisado-os, deixando com que os antigos cachos ficassem lisos. Eu particularmente havia adorado o novo corte, especialmente porque minha irmã mais nova havia se livrado da minha franja. Agora eu não tinha mas cara de menina e sim de uma mulher.

– Então, gostou? – perguntou-me e eu sorri em resposta, logo pulando da cadeira e me jogando em cima de Juls. Estava perfeito. Um perfeito recomeço.

- Sim, obrigada Juls. – falei, com lágrimas nos meus olhos. – Agora nós podemos ir. – sorri, abrindo meu armário e pegando um sobretudo verde que eu pouco usava por achá-lo chamativo demais. – Hora da diversão. – falei para mim mesma, me certificando de que minha irmã não me ouvisse.

Sim, era a hora da diversão.

Alexia suspirou depois de um tempo me encarando como se quisesse me matar. Nada de novo, porém. Eu sabia muito bem que ela deveria estar planejando a minha morte lenta e dolorosa, mas eu já estava acostumado com Juliet, Alexia seria moleza. Então a morena abriu um sorriso malicioso em seus lábios finos e eu levantei uma sombrancelha. Aquilo deveria me assustar?

- Vamos ver quem vai impressionar quem, Holmes. Você vai ficar de queixo caído...

Soltei uma risada nasalada e saí assim que Juliet nos empurrou para fora do quarto, fazendo com que tanto eu quanto Alexia ficássemos novamente sozinhos durante a hora seguinte. Aquilo não prestaria, eu tinha certeza, mas estava pagando para ver. Queria rir um pouco agora, depois de tanta tensão quando vi Marie pela primeira vez hoje.

- E estamos de volta a espera... – Alexia murmurou e eu dei de ombros, esperando que ela se irritasse novamente comigo, como sempre acontecia. Ela sempre ficava nervosa. Deviam ser os hormônios, talvez...

- Como sempre. – completei, fazendo com que a morena me olhasse inquisitiva. Não falei nada pelo restante do tempo. Sabia que se eu me atrevesse, Alexia poderia começar uma briga comigo e isso não seria legal. Acima de tudo, eu perderia a chance de beber às custas de minha prima de consideração. Não seria legal com ela, e muito menos comigo.

-x-

A hora passou como um martírio e eu não estava mais agüentando escutar as queixas de Alexia sobre o quão demorada e enrolada Juliet era. Quero dizer, no início eu até dei uma risada abafada, mas depois parecia que Alexia novamente se empolgara demais perto de mim e continuou falando sem parar. É, aquela garota era irritante.

Então Marie saiu junto a Juliet do quarto e eu pude vislumbrar minha priminha loira e de cabelos curtos. Mal pude acreditar que ela aceitara os cortar mais do que dois ou três dedos. Trajava uma calça jeans colada ao corpo e uma blusa de frio, usando um salto alto que eu não reconheci bem. Quando ela olhou pra mim, esperando aprovação, olhei em seus olhos e vi fogo ardendo dentro. Não entendi bem o que aquilo significava, mas dei de ombros, estalando a língua e assobiando.

- Você está linda, prima. – foi apenas o que falei e ao vê-la sorrir em resposta, fiz uma reverência. – Vamos? – perguntei, já caminhando em direção à saída de Shoreline.